Aprendizagem Baseada em Problemas Contextualizados

abril 21, 2020 15:48

Valéria Vernaschi Lima

As raízes da utilização de problemas e da vivência como recursos para disparar o processo ensino-aprendizagem na escola formal podem ser encontradas em John Dewey, filósofo e pedagogo norte americano, nascido em 1859 (DEWEY, 2002). Com Jerome Bruner (1915-2016), a aprendizagem foi considerada como um processo ativo, baseado em saberes prévios (BRUNER, 1987). Para este autor, também psicólogo norte americano,
a utilização de pequenos grupos ao invés de grandes salas visava potencializar as interações e, por isso, a aprendizagem. Utilizando ideias de Dewey e Bruner, a primeira organização curricular baseada em problemas no ensino superior foi formalizada no final da década de 1960, no curso médico da McMaster University, Canadá (BARROWS, 1980; SCHMIDT, 1993). A partir dessa iniciativa, diversas experiências que utilizam metodologias
ativas de ensino-aprendizagem foram desenvolvidas em todos os continentes.

Ao utilizarmos problemas do cotidiano da vida ou do trabalho para disparar aprendizagens, inundamos o conhecimento abstrato de contexto e favorecemos a aproximação sujeito-objeto apontando a utilidade dos novos saberes e a oportunidade dessa aprendizagem para transformarmos a realidade. Segundo Lima e Padilha (2018, p.20),

“diferentemente da aprendizagem baseada em temáticas, apresentadas de
modo abstrato e desarticulado em disciplinas, os contextos trazem, por meio de
suas representações socioculturais, as problemáticas que possibilitam a
construção de significados, ao mesmo tempo individuais e sociais, e que
fundamentam nossa intervenção no mundo”

A utilização de problemas também favorece a integração da teoria e da prática e o conhecimento das disciplinas como um meio para melhor entendermos, vivermos e interferirmos no mundo. As disciplinas e os conteúdos deixam de ser a finalidade do processo educacional e passam a ser subsídios para melhor compreendermos os fenômenos subjacentes aos problemas e desafios enfrentados no cotidiano da vida e do trabalho. Os problemas, além de promoverem pontes entre o ensino e a prática cotidiana, impregnam de sentido a atuação profissional e mobilizam uma combinação de saberes, no sentido de produzirmos melhores práticas.

Em confronto com esses problemas, os estudantes são estimulados a identificar seus saberes prévios e a fronteira de sua aprendizagem para buscarem novas informações e o enfrentamento da situação. Esse movimento, traduzido pela formulação de perguntas a serem investigadas, promove o desenvolvimento de capacidades para a aprendizagem
ao longo da vida e dialoga com a metodologia científica, que requer a análise crítica de fontes e informações (VENTURELLI, 1997).

Ainda na década de 1960, a contribuição de Paulo Freire agregou uma dimensão política ao processo de aprendizagem, destacando a educação como prática de liberdade e de autonomia, especialmente construída por meio do desenvolvimento da consciência crítica dos educandos. A pedagogia de Paulo Freire reconhece o homem em permanente
construção e a produção de conhecimento como resultado das relações do homem com o mundo, ou seja, da problematização de sua experiência (FREIRE, 2005). Assim, o caráter reflexivo e crítico frente aos problemas e as experiências vividas pelas pessoas possibilitam o desenvolvimento de capacidades compatíveis com uma postura científica e transformadora na interação dos homens com o mundo.

REFERÊNCIAS

BARROWS, H.S. e TAMBLYN, R.M. Problem-based learning. New York: Springer Press; 1980.

BRUNER, J. The process of education. Cambridge: Harvard University Press; 1987.
DEWEY, J. A escola e a sociedade; a criança e o currículo. Lisboa: Relógio d’Água Editores;
2002.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. Editora Paz e Terra; 2005.

LIMA, V.V. e PADILHA, R.Q. Trajetória das práticas educacionais. In: Lima VV e Padilha RQ
(org). Série Processos Educacionais na Saúde vol1 – Reflexões e inovações na Educação
de Profissionais de Saúde. Rio de Janeiro: Atheneu, p.15-23, 2018.
SCHMIDT H.G. Problem-based learning: rationale and description. Med Educ 1993; (17):11-6.

VENTURELLI, J. Educación Médica: nuevos enfoques, metas y métodos. Serie Paltex Saludy Sociedad 2000, no. 5. Washington, DC: OPS/OMS; 1997.


Mar Aberto abril 21, 2020 15:48




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