outubro 2, 2020 15:50
No texto anterior sobre o mapeamento de experiências EAD para profissionais de saúde, apresentamos a metodologia usada para a coleta de dados. Como resultado desta etapa, 212 documentos nacionais foram selecionados a partir da leitura dos resumos, entre artigos científicos, resumos de congresso e capítulos de livro. No âmbito internacional, em virtude da extensão do universo de documentos encontrados, a busca exploratória considerou a composição de uma amostragem qualificada por dois critérios: espacialidade (cobertura abrangente de experiências desenvolvidas em todos os continentes) e temporalidade com simetria aproximada aos achados/anuais do banco nacional. Sendo assim composta por 130 documentos, entre artigos científicos e tese de doutorado.
Com base numa primeira análise dos documentos, apresentamos a seguir um panorama geral dos resultados obtidos segundo algumas categorias: localização geográfica, instituições produtoras, ano de produção, campo de conhecimento, temática das formações, público-alvo e modalidade das formações.
De acordo com o local da instituição responsável pela publicação, dos 212 relatos nacionais selecionados, identificou-se concentração de experiências advindas da região sudeste do Brasil, seguidas das regiões Nordeste e Sul.
No cenário internacional, dos 130 relatos selecionados na busca exploratória, identificaram-se experiências advindas de todos os continentes, com destaque para a América do Norte e Europa.
No cenário nacional predominaram experiências advindas de instituições federais de ensino superior, de pesquisa e escolas de saúde pública, muitas destas ligadas à rede UNASUS ou ao Programa Telessaúde Brasil Redes. Constata-se também em várias das experiências o desenvolvimento de atividades formativas realizadas em parceria com outra instituição de ensino e com setores responsáveis pela gestão na saúde, o que evidencia a cooperação entre instituições para o desenvolvimento de ações formativas com temáticas que estejam em consonância com o cenário de saúde nacional/regional/local. Ademais, pontuam-se também experiências advindas de universidades como apoio às disciplinas de graduação e pós-graduação, o que sugere o avanço do Uso das TICs e da mediação tecnológica nas metodologias pedagógicas. Em âmbito internacional, predominaram instituições de ensino superior.
No âmbito nacional, destaca-se uma curva crescente na produção de relatos de 2006 para 2016, com uma redução da produtividade em 2013, um aumento no ano de 2014, mantido em 2015 e ampliado em 2016.
No âmbito internacional, em função dos critérios de seleção da busca exploratória ser composta por amostragem, criou-se uma síntese quantitativa das bases nacionais e definiu-se o número aproximado de achados que seriam selecionados a cada ano das bases internacionais. Nesse sentido, estabeleceu-se como critério de seleção a correspondência em espelhamento dos dois bancos, criando um paralelo provisório para se refletir sobre a curva de crescimento identificada.
No mapeamento nacional, observa-se a predominância de publicações ligadas a periódicos e eventos da área de educação profissional em saúde. A distribuição dessas experiências publicadas em formato de artigo é oriunda predominantemente do campo profissional da saúde coletiva, enfermagem, medicina e odontologia. No cenário nacional observa-se também a tendência de apresentações dessas experiências em congressos e em coletâneas de livros, o que correspondeu a cerca de 40% do banco mapeado. A busca internacional, em convergência com os achados nacionais, evidenciou a presença de periódicos da educação profissional, vinculados aos campos da medicina, enfermagem e odontologia.
O cenário nacional das publicações identificadas no mapeamento revelou a predominância de temáticas de atividades formativas relacionadas a abordagens clínicas da saúde e atenção básica/saúde da família, com destaque para enfermagem, medicina e odontologia. Em um segundo plano, destacaram-se formações nas áreas de gestão em saúde, educação profissional na saúde, políticas públicas em saúde, vigilância em saúde e promoção da saúde. Outro destaque refere-se ao uso crescente das TICs e do ambiente virtual de aprendizagem como atividades complementares de disciplinas de graduação e pós-graduação. Nesse ponto, observou-se nos relatos o potencial dessas diversas ferramentas para conferir um formato mais dinâmico, interativo e colaborativo, a exemplo do uso de vídeos, aplicativos e da realidade virtual para demonstração de procedimentos e abordagens clínicas aos estudantes.
Dentre as temáticas das formações representadas no banco de pesquisas internacional, percebeu-se a multiplicidade dos conhecimentos que compõem o campo da saúde, aspectos da infraestrutura dos sistemas de saúde, integração com tecnologias e especificidades dos conteúdos segmentados pelo público profissional. Destacaram-se nesse contexto, formações na área da Medicina, seguido das formações da enfermagem, farmácia, odontologia e saúde pública. Uma parcela significativa destes relatos referenciou os vínculos das atividades teóricas com práticas clínicas especializadas nos serviços de saúde como uma estratégia privilegiada para o desenvolvimento dos profissionais e para a educação continuada. Verificou-se que, predominantemente, as ofertas formativas propostas pelas Universidades destinavam-se aos estudantes das séries finais da graduação e estudantes de pós-graduação.
No cenário nacional, o público-alvo predominante foram profissionais da saúde atuantes no SUS, com destaque para os serviços de Atenção Básica, Estratégia Saúde da Família e ambiente hospitalar. Destes, destacaram-se os profissionais de nível superior da enfermagem, medicina e odontologia. O mapeamento nacional também revelou um número expressivo de experiências formativas direcionadas aos estudantes de graduação e pós-graduação em áreas da saúde, e um número menor de experiências voltadas para os docentes da saúde.
De modo convergente, o público-alvo das formações no nível internacional é predominantemente composto por estudantes de graduação, graduados e estudantes de pós-graduação, há um número restrito de técnicos, gestores e docentes, sendo a maioria, descritos como “profissionais da saúde”. A maioria das iniciativas relatadas foi realizada por Instituições Universitárias com forte vinculação com ensino e pesquisa relevantes no cenário internacional. O público graduado identificado como “profissionais de saúde” participou de formações com caráter complementar ou continuado. Um número significativo de achados não especificou a graduação e uma parcela semelhante foi composta por enfermeiras. Identificou-se um número mais limitado de médicos, e, o restante, pertencente aos seguintes campos: Odontologia, Farmácia, Preceptor e Supervisor, Nutricionista, Assistente Social, Psicólogo e Veterinário. No âmbito da graduação, está a maior parte das experiências selecionadas para o banco internacional, identificou-se um número considerável de formações utilizando recursos virtuais das TICs. Dentre eles, há o predomínio de estudantes da área médica, seguidos pelos da enfermagem, daqueles designados como “estudantes da saúde” e um número um pouco mais reduzido da odontologia, farmácia, fisioterapia, terapia ocupacional, biomedicina e nutrição. Na esfera da pós-graduação e da área técnica selecionamos uma amostragem menor de relatos, em consonância com a composição do banco nacional. Nesses casos, a maioria dos profissionais foram caracterizados como da “saúde em geral”, enfermagem, professores da área da saúde e um grupo reduzido de médicos, fisioterapeutas, gestores e estudantes técnicos.
O mapeamento nacional evidenciou um predomínio de atividades formativas realizadas na modalidade híbrida, também denominada de Blended learning, principalmente relacionadas a cursos de especialização. Nas formações descritas como totalmente na modalidade EaD, identificou-se a utilização frequente de sistemas de tutorias para acompanhamento e interação com os alunos. Outro destaque relevante é a presença de formações curtas na modalidade EaD autoinstrucional, predominantemente ofertadas pela Rede UNASUS e abrangendo temáticas de destaque no cenário da saúde nacional, tais como o Zika, Dengue e Chikungunya. O uso do Telessaúde para qualificação dos trabalhadores do SUS foi bastante citado, principalmente os recursos das teleconferências e da teleducação, bem como da composição de redes conforme a categoria profissional, à exemplo da telemedicina, Teleodontologia e telenfermagem. Para os estudantes de graduação e pós-graduação, predominou a modalidade híbrida/blended learning, com o uso do ambiente virtual de aprendizagem para atividades complementares aos encontros presenciais. Estas atividades geralmente estavam relacionadas ao uso de mídias e atividades interativas, tais como vídeos, repositório de conteúdo e uso de fóruns de discussão. Alguns relatos evidenciaram o desenvolvimento de ferramentas de auxílio às atividades presenciais, tais como: aplicativos, desenvolvimento de DVD, portfólios virtuais, construção de Genograma via tecnologia, ferramenta virtual para elaboração de TCC, realidade virtual, entre outros.
No cenário internacional, identificou-se o predomínio de relatos de experiências da modalidade híbrida (Blended learning), com a conjugação de tecnologias de educação a distância e presenciais. Uma parcela mais reduzida foi caracterizada como modalidades de educação a distância (distante learning/ e-learning/ Distance education). O universo da pesquisa demonstrou que a utilização da multiplicidade de recursos online provenientes da telemedicina/telessaúde, tais como: videoconferências, repositórios com imagens, supervisões e estudos clínicos são potentes para o campo da saúde, em detrimento da modalidade b-learning ou e-learning. Há um número reduzido de relatos que explicita a utilização de recursos de comunicação e aprendizagem off-line, visto que foram desenvolvidos para regiões geográficas remotas e de difícil acessibilidade. Um número relevante dos relatos de experiências de Educação a Distância selecionados se vincula a programas de graduação e pós-graduação universitários mais amplos, sendo parte das estratégias um ambiente virtual de aprendizagem (virtual learning environment). Entretanto, não há um destaque nas descrições para as interações em redes, estratégias de aprendizagem colaborativas e consolidação dos processos de mediação do aprendizado.
“Este é um texto de divulgação científica que adota uma estética jornalística. Foi editado e produzido por Juliana Vargas com o objetivo de divulgar uma pesquisa acadêmica realizada por Ana Silvia Pavani Lemos, Fernanda Maria Duarte Severo, no âmbito do Projeto Avaliação e prospecção de tecnologias web para a Educação Permanente em Saúde”.
Mar Aberto outubro 2, 2020 15:50