A avaliação do ponto de vista do ensino-aprendizagem da saúde

outubro 4, 2020 11:32

Com o objetivo de levantar os componentes necessários à avaliação de material do ponto de vista do ensino-aprendizagem da saúde, no Brasil e, assim, apoiar a construção da matriz analítica, respondendo à quarta pergunta de pesquisa, o trabalho foi desenvolvido em duas direções. A primeira de análise das políticas públicas de educação na saúde, a partir dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), da constituição das diretrizes de Educação Permanente em Saúde e suas estratégias e, em seguida, o aprofundamento dos critérios levantados, do ponto de vista da revisão de bibliográfica.

A reforma constitucional brasileira, de 1988, garantiu a criação do SUS e com ele o acesso completo, gratuito e universal de serviços de saúde à todos os cidadãos brasileiros. Os seguintes princípios do SUS orientam todas as políticas subsequentes a fim de garantir os serviços à população:

  • Universalidade de acesso;
  • Integralidade de assistência;
  • Preservação da autonomia das pessoas;
  • Igualdade de assistência à saúde;
  • Direito à informação às pessoas assistidas;
  • Divulgação de informações;
  • Utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades;
  • Participação da comunidade; 
  • Descentralização político-administrativa; 
  • Integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico;
  • Conjugação dos recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população. 

Instituída como política do SUS em 2003, a Educação Permanente em Saúde (EPS) conjuga parte deste programa e tem como propósito reforçar, melhorar e inovar o conhecimento de profissionais do sistema, e a disseminação desse conhecimento para a população em geral. As diretrizes de implementação da Política de EPS, como estratégia para a formação e o desenvolvimento dos próprios trabalhadores do Ministério da Saúde são:

  • Valorizar o trabalhador e o trabalho em saúde, na perspectiva da Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão no SUS; 
  • Fomentar práticas educacionais em espaços coletivos de trabalho, fortalecendo o trabalho em equipes multiprofissionais; 
  • Promover a aprendizagem significativa por meio da adoção de metodologias ativas e críticas; 
  • Favorecer a autonomia dos sujeitos e a corresponsabilização nos processos de trabalho; 
  • Articular a Educação Permanente em Saúde e a gestão de pessoas por competências para a organização das ações de educação no Ministério da Saúde. 
  • Fortalecer a gestão da Educação Permanente em Saúde de forma compartilhada e participativa; 
  • Contribuir para a mudança cultural e institucional direcionada à gestão compartilhada e ao aprimoramento do SUS; 
  • Constituir-se como uma estratégia política para o enfrentamento da fragmentação dos serviços e das ações de saúde; 
  • Valorizar as múltiplas dimensões humanas nos processos de ensino-aprendizagem.

Em 2008, como forma de ofertar capacitação profissional aos trabalhadores da saúde em atividade no SUS, o Ministério da Saúde do Brasil, em parceria com 18 universidades públicas e serviços estaduais e municipais da saúde, concebeu a Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS).  Esta rede de integração entre instituições teve também como objetivo o compartilhamento de material educacional e uma cooperação para desenvolvimento e implementação de novas tecnologias educacionais em saúde. É neste contexto que, além de atender às diretrizes da EPS, a UNA-SUS definiu três padrões adicionais para os recursos educacionais a fim de atender a grande demanda de capacitação do Ministério da Saúde: 1) interoperabilidade (padrões tecnológicos e uso de múltiplas plataformas), 2) reutilização (recursos focados na alta granularidade, com baixo nível de agregação) e, 3) atendimento (das necessidades de aprendizagem dos profissionais de saúde).

Em adição às diretrizes apresentadas até aqui, importa acrescentar as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). Embora apresente especificidades para cada área da saúde, interessa para a construção da matriz ressaltar sete diretrizes aplicáveis a todas as áreas da saúde:

  • Pluralidade de ideias;
  • Indissociabilidade entre teoria e prática;
  • Ensino centrado no aluno; 
  • Aprendizagem baseada em problemas e orientada para os problemas da sociedade; 
  • O professor como facilitador do processo;
  • Pedagogia da interação; 
  • Contato com a realidade da saúde.

Para aprofundar os critérios que constituem a Educação Permanente em Saúde e a Educação à distância nesta área, a revisão bibliográfica identificou dez autores (nacionais e internacionais): Ceccin1, Child et. al2, Ruiz, Mintzer e Leipzig3, Ellaway e Masters4, Bras e Duhamel5, Windle, Richard e Wharrad6, Mancy Foundation7, Ruggeri, Farrington e Brayne8, Miccas e Batista9, Tarcia et. al10. As contribuições teóricas apresentadas na linha do tempo a seguir, articulam-se com a análise das diretrizes anteriores.

Quais são os elementos importantes que constituem uma avaliação de material do ponto de vista do ensino-aprendizagem da Saúde? Para responder à quarta pergunta de pesquisa da construção da matriz analítica, a análise das diretrizes e das produções teóricas resultou em uma tabelas de recorrência que possibilita a visualização dos critérios que podem ser considerados mais importantes ou prioritários: colaboração, interação, aprendizagem significativa e problematização das práticas. 

Referencias

  1. Ceccim R. B. (2004), Educação Permanente em Saúde: desafio ambicioso e necessário, Interface – Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.16, p.161-77.

  2. Childs S. e al. (2005), E-learning for health professionals and students, Health Libraries Group 2005 Health Information and Libraries Journal, 22 (Suppl. 2), pp.20–32.

  3. Ruiz J., Mintzer M. e Leipzig R (2006) The Impact of E-Learning in Medical Education, IT in Medical Education, Academic Medicine, Vol. 81:3, pp.207–212. 

  4. Ellaway R. e Masters K. (2008), AMEE Guide 32: e-Learning in medical education. Medical teacher 30(5):455- 473.

  5. Bras P. e Duhamel G. (2008), Formation médicale continue et évaluation des pratiques professionnelles des médecins, Rapport d’inspection générale des affaires sociales, RM2008-124P.

  6. Windle, Richard and Wharrad, Heather (2010) Reusable learning objects in healthcare education. In: Interprofessional e-learning and collaborative work: practices and technologies. IGI Global, Hershey, pp. 244-259. 

  7. Macy Foundation (2010), Lifelong Learning in Medicine and Nursing, Final conference report, AAMC e AACN.

  8. Ruggeri K., Farrington C., Brayne C. (2013), A Global Model for Effective Use and Evaluation of e-Learning in Health, in: Liebert M., Telemedicine and e-Health, vol. 19, n.4, pp. 312 – 321.

  9. Miccas F. e Batista S. (2014), Permanent education in health: a review, Rev Saúde Pública 2014;48(1):170-185.

  10. Tarcia R., Gonçalves D., Pacheco F., Oliveira C., Abreu S. (2015), Avaliação como indutora da qualidade: mudanças no curso de especialização saúde da família, II Relato de experiências em tecnologias educacionais do Sistema UNA-SUS, pp. 286-306.

“Este é um texto de divulgação científica que adota uma estética jornalística. Foi editado e produzido por Juliana Vargas com o objetivo de divulgar uma pesquisa acadêmica realizada por Stéphanie Marie Dominique Bertrand Thomas Cor Coomans de Brachen, no âmbito do Projeto Avaliação e prospecção de tecnologias web para a Educação Permanente em Saúde”


Mar Aberto outubro 4, 2020 11:32




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