fevereiro 28, 2020 06:35
Este post tem o propósito de apresentar as perspectivas teóricas que orientam a identificação dos estudos sobre a aprendizagem colaborativa e o papel da tecnologia no processo de formação à distância, especialmente no quadro da formação profissional em saúde.
Para falar de aprendizagem colaborativa é preciso, em primeiro lugar, compreender o contexto em que o debate surge: no encontro das tecnologias com os fenômenos sociais e culturais. Segundo Pierre Levy, se há uma relação que se possa estabelecer entre a tecnologia e a sociedade ou a cultura, ela é muito mais de condicionamento do que determinação, uma vez que não são as tecnologias que determinam a cultura ou a causa de fenômenos sociais, mas são elas que viabilizam as condições para que tais fenômenos se manifestem. Assim, é no campo da técnica e a sua relação com o território que se identifica uma ampla produção que poderia fomentar as análises da relação das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) com as diversas transformações contemporâneas. No caso da Educação em geral, e da Aprendizagem Colaborativa em particular, a maior parte dos estudos encontrados não vai além da constatação, crítica ou entusiástica e de passagem, do papel das TICs como fator que possibilita mudanças na Educação.
Mesmo assim, embora exista um lugar comum onde emerge o debate acerca da colaboração associada às possibilidades apresentadas pelas TICs, alguns autores avançam ao refletir sobre o desenvolvimento de novas competências para aprender colaborativamente e para trabalhar em equipe no contexto mais amplo das mudanças no mundo das organizações e do trabalho. Nesse contexto destacam-se as características dos modos de produção contemporâneos, nos quais, paradoxalmente, o desenvolvimento da hipercompetitividade entre empresas e países tem contribuído para uma crescente interdependência e valorização das formas cooperativas e colaborativas entre diversos atores econômicos em múltiplos níveis. Esse aspecto incide nos discursos sobre o trabalho, produzindo destaque para o papel da aprendizagem autônoma, a qual inclui a capacidade de aprender a conviver e a trabalhar cooperativamente, competências que se tornam fundamentais para a educação atual.
Na Educação, grande parte do destaque que a colaboração têm se deve aos processos de reestruturação produtiva com vistas à competitividade globalizada. Competitividade que convida a Educação a formar profissionais para este contexto ou, em outras palavras, a produzir subjetividades afeitas a este modo de produção intensamente competitivo e pautada na exigência da inovação.
Embora o objetivo aqui não seja uma análise transdisciplinar das mediações tecnológicas subjascentes à colaboração ou mesmo das repercussões da economia política neste domínio, é preciso um delineamento – ainda que incipiente – do contexto geral em que a colaboração como fenômeno se apresenta. Em outros termos, para responder a algumas das perguntas mais elementares e estritamente técnicas que orientam este estudo, no sentido de uma definição primeira da aprendizagem colaborativa, é preciso considerar as (meta) relações que o conceito entretém. A necessidade de contextualização se justifica pelo vínculo da relação destas técnicas e tecnologias da colaboração com a organização da vida social, que perpassa a escolha da maneira com que serão utilizadas. Assim, se por um lado, o imperativo da competitividade econômica justifica a colaboração, a tendência é que o faça estando subordinada à esta lógica.
Assim, considerando que a Saúde Coletiva em geral e o Sistema Único de Saúde em “particular” tende a guardar distinções importantes com a dinâmica do mercado, distinção de princípios, meios e finalidades, deve-se também considerar a tendência de que a colaboração se dê marcada por estas distinções. Não só no discurso que acompanha a prática, como também na migração e desenvolvimento conceitual. Daí também a necessidade técnica de distinção e contextualização, pois é mais um dado no entendimento pragmático do conceito, e portanto que abre espaço para um uso mais eficaz deste.
O trabalho que será apresentado no próximo post é resultado de uma revisão integrativa, que teve como ponto de partida uma pesquisa intitulada “Aspectos da Aprendizagem Colaborativa e do uso de Ambientes Virtuais de Aprendizagem no Âmbito da Formação Profissional em Saúde” (Silva, 2015). Por configurar-se como uma revisão integrativa e pela própria escolha das publicações a revisar, esse trabalho resultou numa “amostragem” bastante representativa do estado da arte sobre aprendizagem colaborativa, apesar de contar apenas com publicações em formato de artigo indexado e capítulo de livro. Desta forma, a própria revisão serviu de fonte primeira, seguida das respectivas publicações nela revisadas (snowball). Na etapa seguinte, foi realizado um grupo de estudos semanal sobre a temática, do qual participaram pesquisadoras do grupo e orientandos e que teve como um dos objetivos aprofundar e socializar os achados. De cunho exploratório, no que se refere à Aprendizagem Colaborativa, o grupo selecionou aqueles textos de acesso livre que mais detalhadamente definissem o conceito e seus usos. Destes processos resultaram fichamentos, oficinas, notas de pesquisa e muitos debates que, como produtos intermediários, deram origem ao debate a ser apresentado no segundo texto do assunto aprendizagem colaborativa.
“Este é um texto de divulgação científica que adota uma estética jornalística. Foi editado e produzido por Juliana Vargas com o objetivo de divulgar uma pesquisa acadêmica realizada por Argus Tenorio Pinto de Oliveira, orientado por Francini Lube Guizardi, no âmbito do Projeto Avaliação e prospecção de tecnologias web para a Educação Permanente em Saúde”.
Mar Aberto fevereiro 28, 2020 06:35