abril 21, 2020 17:02
Rute Nogueira de Morais Bicalho
Pensar em propostas pedagógicas para contemplar e emergir as Novas Ecologias de Aprendizagem, com metodologias híbridas, demanda configurar novas formas de organizar, desenvolver, ofertar e avaliar os cursos. Não faz sentido manter o tradicional, há que implementar novas propostas para facilitar o processo de ensino e aprendizagem com todas as características da aprendizagem em rede e convergência.
Surge daí a necessidade por modelos de Design Instrucional, realizados, via de regra, por Designer Instrucionais (profissão). Design vem do inglês e tem como base o latim designasse (marca, sinal), o que significa desenvolver, conceber. É o resultado de um processo ou atividade em termos de forma e funcionalidade (FILATRO, 2008). Segundo Kenski (2015), a tradução de “Design” para o português “desenho” não expressa a complexidade do termo. “Projeto” tem mais correlação, pois é inseparável do sentido da ação. O termo “Instrucional” quer dizer: instruir, ensinar. É a atividade de ensino que se utiliza da comunicação para facilitar a aprendizagem (FILATRO, 2008).
Existe certa resistência quanto a usar o termo “Design Instrucional”, pois reflete uma aprendizagem tecnicista, de abordagem apenas comportamental, em que os conteúdos são apresentados em doses e por instruções. A aprendizagem ocorre como resultado de um contexto educacional, onde os conteúdos são tratados de forma sequenciada/controlada e os estudantes são reforçados apropriadamente. Ainda nessa perspectiva, o papel de estudante pressupõe passividade, pois ele apenas assimila os conteúdos apresentados pelo professor que detém o conhecimento, numa dinâmica que se mostra vertical e hierarquizada.
Essa resistência encontra justificativa na lógica utilizada para a criação e execução de projetos: Elaboração de Sistemas de Instrução (ISD – Instrucional Systems Design). Essa lógica de organizar as informações em instrução foi amplamente utilizada na Segunda Guerra Mundial com o objetivo de criar treinamentos mais eficientes para os soldados, baseados em pressupostos da psicologia behaviorista e da teoria da comunicação e informação (MOORE; KEARSLEY, 2008).
O número de projetos que utilizam somente a instrução ainda existe, o que também reforça a resistência sobre o termo Design Instrucional. Para marcar distinção com essa lógica na direção do cenário mais atual, alguns autores preferem utilizar o termo Design Pedagógico (BEHAR; TORREZZAN, 2009), Design Educacional ou Projetista Educacional (MILL, 2018, p. 161).
Quando falamos em projetos para esses novos cenários, em especial para as últimas gerações da EaD como o e-learning (aprendizagem suportada em tecnologias eletrônicas), podemos lançar mão da implementação de tipos diferentes de designs, uma vez que a utilização das tecnologias, as metodologias, avaliação, qualidade da comunicação e interação apresentam variedades. Filatro (2008), os agrupou em três tipos: Fixo, Aberto e Contextualizado.
Design Fixo: diz de projetos modelados, com decisões fixas e inalteráveis. Existe clara separação entre as fases de concepção e execução. A ênfase é dada no conteúdo que costumam ser ricos, estruturados e são apresentados em diferentes mídias. O aprendiz interage com as ferramentas e recursos empregados, não há a participação de agentes mediadores (tutor/professor). O feedback é automatizado. As atualizações dos conteúdos ou revisões dos demais elementos são realizadas ao término do curso, quando na ocasião de sua reoferta. Nesse sentido, o trabalho do designer é amplamente explorado na fase de planejamento, pois uma vez que as decisões sejam tomadas, as possibilidades de alterações nas fases seguintes não são desejáveis. Esse tipo de modelo é amplamente utilizado em MOOCs (Massive Open Online Course), isto é, em cursos para grandes escalas de público.
Design Aberto: diz de projetos em bricolagem que privilegia mais os processos de aprendizagem do que o produto. Os conteúdos são criados, refinados e modificados durante a execução do curso. As mídias são utilizadas, mas em menor grau, uma vez que implica custos e prazos de produção que não comportam nos cursos (via de regra, com maior durabilidade que os cursos desenvolvidos por DI fixo. É um modelo que privilegia a personalização e contextualização do conteúdo e a mediação é valorizada. O trabalho do designer é constante, pois os materiais são dispostos em parcelas e alterados conforme resultado da avaliação durante a execução do curso.
Design contextualizado: diz de projetos que buscam equilíbrio entre a automação dos processos de planejamento (DI fixo) e personalização da contextualização da situação didática (DI aberto). Utilizam para tanto, os recursos da web 2.0. A perspectiva desse modelo é valorizar o contexto, lidar com a espontaneidade e as incertezas próprias do ser humano e dos processos interacionais. Portanto, é indispensável a participação de mediadores. As alterações são permitidas, inclusive, pelos próprios estudantes. O designer tem papel constante, uma vez que precisa readequar conteúdos e ferramentas às possibilidades contextuais.
Kenski (2018) ainda traz um outro tipo de design, chamado por ela de “misto”, em que se mesclam os três tipos acima, de acordo com o projeto que está sendo desenvolvido (MILL, 2018, p. 164).
De todos os modelos de design, podemos observar que há tendência para gerar materiais didáticos que oferecem ao estudante uma oportunidade de acessar e estudá-los livremente, de uma maneira não-linear, construindo rotas de aprendizagem pessoal com base nas necessidades e interesses, à luz dos princípios da Andragogia.
Andragogia é a arte e ciência de ensinar adultos (Knowles, 1980).
É desejável que o estudante entre em contato com situações aleatórias a partir de uma agenda de estudos personalizada, que lhe causem motivação para investigar, seja a partir da interação com colegas ou com os materiais didáticos (BEHAR; TORREZZAN, 2009).
REFERÊNCIAS
BEHAR, P. A.; TORREZZAN, C. A. W. Metas do design pedagógico: um olhar na construção de materiais educacionais digitais. Revista Brasileira de Informática na Educação, v. 17, no 3, p.11-24, 2009. Disponível em: . Acesso em 02 jul. 2018.
FILATRO, Andréa. Design Instrucional Contextualizado: Educação e Tecnologia. São Paulo: SENAC, 2008.
KENSKI, V.M. Design instrucional para cursos on-line. São Paulo, 2015.
KNOWLES, Malcolm S. The modern practice of adult education: from pedagogy to andragogy. Cambridge: Adult Education, 1980.
MILL. D. Dicionário Crítico de Educação e Tecnologias e Educação a Distância. Campinas, São Paulo: Papirus, 2018.
MOORE, M.; KEARSLEY, G. A educação a distância: uma visão integrada. Trad. Roberto Galman. São Paulo: Thomson Learning, 2008.
Mar Aberto abril 21, 2020 17:02