abril 22, 2020 10:15
Valéria Vernaschi Lima
O processo ensino-aprendizagem é um fenômeno social pautado na relação entre o sujeito que aprende, o objeto a ser conhecido (conteúdos de aprendizagem: produtos sociais e culturais) e o professor (agente mediador entre o sujeito e o objeto). Considerando-se as principais teorias psicológicas que explicam esse fenômeno: inatista, ambientalista e interacionista, destacamos a perspectiva interacionista por fazer uma releitura e por articular elementos das três concepções, valorizando, no movimento de
aprendizagem, a interação entre as pessoas e dessas com o mundo.
Inicialmente pautada na inserção das crianças nas atividades cotidianas da vida em família e nos grupos sociais, a educação formal saiu do domínio das organizações religiosas para o predomínio de instituições laicas. A partir do século XVII, a distribuição dos estudantes em classes foi associada ao estabelecimento de programas sequenciais, no sentido da escolarização em massa. Bernstein (1980, p.47) aponta que “as formas por
meio das quais a sociedade seleciona, classifica, distribui, transmite e avalia o conhecimento educativo considerado público refletem a distribuição de poder e dos princípios de controle social”.
Para Sacristán (1998, p.34) o currículo é “um projeto seletivo de cultura, social, política e administrativamente condicionado, que preenche a realidade escolar e que se torna realidade dentro de condições da escola tal como se acha configurada”. A escolha de determinados conteúdos e caminhos em detrimento de outros define quais conhecimentos são relevantes para serem transmitidos às futuras gerações.
A partir da Idade Moderna, o conhecimento deixou de ser uma revelação divina ou mágica e o pensamento e o método científico passaram a fundamentar o processo ensinoaprendizagem. Essa nova lógica passou a ser pautada na formulação de perguntas frente a um problema e na busca por evidências que testassem as hipóteses elaboradas. Dessa forma, a metodologia científica, a partir da verificação, análise, síntese e validação (prova lógica) de sistemas explicativos no processo ensino-aprendizagem vem sendo o método fundante na construção de novos saberes e na ancoragem do processo ensinoaprendizagem (BACHELARD, 1996).
Uma síntese sobre como as pessoas aprendem, contendo os mais recentes avanços nas investigações sobre cérebro, mente, experiência e escola, foi publicada por Brandsford et al. (2007). Esses autores destacam os papéis dos saberes prévios (aprendizagem significativa), do contexto, da emoção e das estratégias para aprender no processo ensino-aprendizagem e defendem que esse é um processo que ultrapassa os limites da educação formal, sendo a capacidade de aprender uma característica inata e
iniciada na vida intrauterina.
Para as crianças esse processo é intenso e caracterizado pela curiosidade e abertura para aprender. Para o adulto, a aprendizagem é um processo potencializado pela motivação, considerando-se o valor potencial que os novos saberes apresentam em relação à sua utilização na vida pessoal e profissional.
O processo que favorece a aprendizagem significativa para os adultos requer uma postura ativa e crítica, por parte dos envolvidos em iniciativas educacionais (AUSUBEL, 1980). Na aprendizagem significativa, o problema é uma categoria essencial para o processo de aprendizagem e a utilidade dos novos saberes para o enfrentamento desse problema é um fator crítico para o engajamento do sujeito na iniciativa educacional.
REFERÊNCIAS
AUSUBEL, D.; NOVAK, J.D.; HANESIAN, H. Psicologia educacional. Rio de Janeiro: Interamericana; 1980.
BACHELARD, G. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. 9a ed. Rio de Janeiro: Contraponto; 1996.
BERNSTEIN, B. On the classification and framing of educational knowledge. In: Young M. Knowledge and control. 6ª ed. London: Collier Macmillan; 1980. p.47-69.
BRANSFORD, J.D.; BROWN, A.L.; COCKING, R.R. (org) Como as pessoas aprendem: cérebro, mente, experiência e escolar. Editora Senac: São Paulo; 2007.
SACRISTÁN, J.G.; GOMÉZ, A.I.P. Compreender e transformar o ensino. 4ªed. Porto Alegre: Artmed; 1998.
Mar Aberto abril 22, 2020 10:15