abril 22, 2020 10:25
Evelyn de Britto Dutra
A educação profissional em saúde foi sendo transformada ao longo do século XX. Mudanças com a intenção de adequar o profissional às necessidades presentes no campo de atuação para responder as demandas e os desafios da época foram realizadas, o que provocou reformas inovadoras como o currículo baseado em ciências e a aprendizagem
baseada em problemas (FRENK et al., 2010).
Posteriormente, para o século XXI, Frenk et al. (2010) apontam uma transformação baseada em sistemas, reconhecendo a importância de desenvolver competências profissionais. Os novos enfoques desse século concentram-se no atendimento centrado no paciente, no trabalho em equipes interdisciplinares, na prática baseada em evidências, no processo de melhoria contínua da qualidade, no surgimento de novas tecnologias e na integração da saúde pública.
A abordagem dessas competências está voltada as questões de política, direito, gerenciamento e liderança, que estimulam o caráter crítico e analítico do profissional desde a graduação. Frente aos desafios do trabalho e da educação profissional em saúde, destaca-se a formação para o efetivo trabalho em equipe e para as práticas colaborativas (CAIPE, 2013). Uma vez que as estratégias educacionais do século XX são incapazes de enfrentar os problemas do século XXI, surge a Educação Interprofissional (EI) como forma de discutir a segurança do paciente pela dificuldade da colaboração nas equipes.
O primeiro movimento de estudo sobre esse tema foi pelo “Centro para o Avanço da Educação Interprofissional” (CAIPE) no Reino Unido em 1987. Mais tarde, em 2002, o CAIPE definiu a EI como “ocasiões em que duas ou mais profissões aprendem umas com as outras para melhorar a colaboração e a qualidade do atendimento” (BARR, H. 2002, p.6). A concepção dessa definição está centrada no processo de ensino-aprendizado entre as diferentes profissões, incluindo como profissional todos os envolvidos no contexto educacional.
Diante dessa iniciativa, a EI se mostrou como um campo de estudo para diversas pessoas pelo mundo. Em 2010, um grupo canadense publicou novos estudos sobre o tema, principalmente sobre a colaboração interprofissional. O Canadian Interprofessional Health Collaborative (CIHC) lançou a definição de EI como um processo de preparação de pessoas
para a prática colaborativa, descrevendo seis domínios de competências a serem desenvolvidos nos profissionais para promover os conhecimentos, habilidades, atitudes e valores essenciais para a prática interprofisisonal (CIHC, 2010). A saber:
Comunicação interprofissional;
Atendimento centrado no paciente, cliente, família e comunidade;
Esclarecimento de papeis;
Funcionamento da equipe;
Liderança colaborativa;
Resolução de conflitos interprofissionais.
Ao mesmo tempo, houve a publicação de um “Marco para Ação” desenvolvido por um grupo de estudos da OMS em Educação Interprofissional e Prática Colaborativa. Além de declarar a colaboração interprofissional como o caminho para redução da crise mundial
na força de trabalho em saúde, a OMS reafirmou a definição de EI para “quando duas ou mais profissões aprendem sobre os outros, com os outros e entre si para a efetiva colaboração e melhora dos resultados na saúde” (OMS, 2010, p. 13).
A OMS incentivou os países a investirem nesse campo, enfatizando a integração dos sistemas de educação e de saúde e apresentando estratégias de atuação. Também reconheceram as iniciativas já existentes, que estimulam a interprofissionalidade, trazendo evidências da relação entre a Educação Interprofissional e a Prática Colaborativa para fortalecer o sistema de saúde.
Logo em seguida, em 2011, outro relatório foi publicado por um grupo norteamericano, o Interprofessional Education Collaborative Expert Panel (IPEC), fundamentado nas definições da OMS. O relatório assume quatro competências essenciais para a Prática Colaborativa Interprofissional:
Valores/Ética para a Prática Interprofissional;
Funções e responsabilidades;
Comunicação interprofissional;
Equipes e trabalho em equipe.
Outras associações surgiram ao longo desse processo, mostrando um movimento internacional de aprofundamento teórico sobre a Educação Interprofissional e sua potencialidade. Nesse sentido, a Educação Interprofissional em Saúde representa uma estratégia de ação na formação de um novo profissionalismo, fundamentada na colaboração e interprofissionalidade, que almeja melhorias na qualidade dos serviços de
saúde (CAIPE, 2013).
REFERÊNCIAS
BARR, H. Interprofessional Education: Today, Yesterday and Tomorrow. CAIPE, Higher Education Academy, Learning & Teaching Support Network for Health Sciences & Practice, Occasional, Paper 1, 2002.
CANADIAN INTERPROFESSIONAL HEALTH COLLABORATIVE (CIHC). A national interprofessional competence framework. Vancouver: Canadian Interprofessional Health Collaborative, 2010.
CENTRO PARA O AVANÇO DA EDUCAÇÃO PERMANENTE (CAIPE). Introdução à Educação Interprofissional. Julho, 2013.
INTERPROFESSIONAL EDUCATION COLABORATIVE (IPEC) Group. Interprofessional Education Collaborative Expert Panel. Core competencies for Interprofessional Practice: Report on an Expert Panel. Washington, 2011.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Marco para Ação em Educação Interprofissional e Prática Colaborativa. Genebra: OMS; 2010.
Mar Aberto abril 22, 2020 10:25