Educação Permanente

abril 22, 2020 10:32

Valéria Vernaschi Lima

Davini (2009) sustenta que usualmente espera-se que os componentes da capacitação sejam parte essencial da estratégia de mudança institucional, destacando, entretanto, que poucas vezes se instala uma estratégia global e sustentável que dê lugar à conquista progressiva e sistemática desses propósitos.

O enfoque da Educação Permanente na perspectiva de transformação, ao contrário, representa uma importante mudança na concepção e nas práticas de capacitação dos trabalhadores dos serviços de saúde. Ainda conforme Davini (2009, p.44), a EP “supõe inverter a lógica do processo:

(i) incorporando o ensino e a aprendizagem à vida cotidiana das organizações e às práticas sociais e laborais, no contexto real em que ocorrem;

(ii) modificando substancialmente as estratégias educativas, a partir da prática como fonte de conhecimento e de problemas, problematizando o próprio fazer;

(iii) colocando as pessoas como atores reflexivos da prática e construtores do conhecimento e de alternativas de ação, ao invés de receptores;

(iv) envolvendo a equipe ou o grupo de trabalho num processo interativo que visa a troca de experiências multiprofissionais e perspectivas interdisciplinares;

(v) ampliando os espaços educativos fora da sala de aula e dentro das organizações, na comunidade, em clubes e associações, em ações comunitárias”.

A Educação Permanente em serviço não modifica partes, como poderia modificar os componentes de uma máquina, mas se refere às instituições que, como tais, estão vinculadas aos papéis e às representações internalizadas de cada um dos envolvidos.

A EP requer uma mudança conceitual e prática, em comportamentos coordenados com outros. De acordo com este enfoque, o problema da mudança e da aprendizagem nas organizações de trabalho supera amplamente o papel tradicional atribuído à educação de “recursos humanos”, convertendo-a em uma ferramenta de intervenção institucional. Isto significa que, para entender como a aprendizagem se converte em ação, no âmbito de uma organização, é necessário conhecer os elementos que apoiam a persistência e a mudança institucional, razão pela qual se faz necessário revisar:

O próprio conceito de trabalho enquanto espaço não neutro, com regras de jogo instaladas historicamente, exercendo influência sobre as condutas de maneira implícita e explícita;

Os próprios sujeitos, considerando que as regras a modificar estão incorporadas em seus modos de pensar, sustentando hábitos de trabalho de grande estabilidade no tempo.

Cada atividade educativa que se pretenda levar à prática vai exigir,
necessariamente, que se parta da revisão crítica das práticas atuais, de novos acordos entre os grupos de trabalho e das regras da organização” (DAVINI, 2009, p.51).

Assim, Davini (2009) aponta como características de um Sistema de Educação Permanente a institucionalização de uma estratégia integrada com ações coordenadas e voltadas à transformação das práticas dos profissionais e da organização. Essas ações devem ser: (i) contextualizadas; (ii) reflexivas e participativas; (iii) perenes e sustentáveis; (iv) orientadas aos problemas do cotidiano, à melhoria das práticas e ao desenvolvimento
profissional e organizacional; (v) realizadas pelos diversos atores envolvidos; e (vi) avaliadas.


REFERÊNCIAS

DAVINI, M.C. Enfoques, Problemas e Perspectivas na Educação Permanente dos Recursos Humanos de Saúde. In: Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde/Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Brasília : Ministério da Saúde, 2009.


Mar Aberto abril 22, 2020 10:32




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