Orientado ao estudo da colaboratividade nos processos de aprendizagem, este primeiro de dois textos relacionados ao assunto “Trabalho interprofissional em saúde” tem por finalidade apresentar os pressupostos teóricos e o método de pesquisa bibliográfica, que conduzem ao debate em torno dos desafios que a colaboração impõe neste contexto.

Tendo como princípio a corrente de pensamento contemporânea pós-estruturalista e a filosofia da diferença, segundo os conceitos são criações concretas, na medida em que só nascem vinculados a um problema ou conjunto de problemas, a ideia de colaboração na produção da saúde pública no Brasil se estabelece a partir de três grandes processos. O primeiro, diz respeito ao trabalho em equipe, que envolve equipe multiprofissional, trabalho interprofissional, interdisciplinaridade. Estas noções falam da ação conjunta de diferentes profissionais e disciplinas em função da resolução de um problema de saúde. O segundo trata da intersetorialidade, que abarca a intrassetorialidade e diz da cooperação de vários setores para a promoção da saúde. E, por último, tem-se a organização reticular dos serviços de atenção à saúde, em que várias unidades operam em rede a fim executar um atendimento integral.

Embora não tenha se originado no campo da saúde, a colaboração está presente na forma como o sistema é pensado, realizado e vivido, fazendo parte dos vários modelos de atenção à saúde que integram o SUS. Assim, já é utilizada como resposta a problemas concretos de saúde, influenciando a maneira como os serviços e atores se organizam. Dos processos de produção da saúde que já se valem da colaboração, interessa delimitar o estudo em torno dos problemas enfrentados. Em especial aqueles relacionados ao trabalho interprofissional. Embora diferentes disciplinas, tais como a Educação, a Saúde, a Comunicação e a Administração científica já se dediquem ao estudo da colaboração, propõe-se abordar o conhecimento atualizado dos problemas ou desafios para o trabalho em saúde, enquanto condição para se analisar as formações conceituais sobre as colaborações.

O método empregado foi o de revisão integrativa da literatura, realizada a partir da seguinte questão: “Quais são os principais problemas ou desafios para a realização eficaz e resolutiva do trabalho interprofissional em saúde?” A escolha do termo trabalho interprofissional apoia-se nas noções de trabalho em equipe e prática interprofissional, que perpassam os fundamentos de interdependência, objetivos compartilhados e reflexividade. A diferença é o escopo de atuação em rede, enquanto o trabalho em equipe não prevê a performance em toda rede de atenção à saúde, a noção de prática interprofissional remete ao exercício efetivo da comunicação, articulação e colaboração entre diversos serviços e equipes da rede. O que leva a compreensão de que ambos se complementam na ideia de trabalho interprofissional.

O passo seguinte à definição da questão deu-se através da busca por artigos no portal de periódicos da CAPES, tendo como descritores “trabalho interprofissional” e “desafios”. Foram incluídos artigos completos, publicados em revistas indexadas, dos últimos cinco anos, em português. Os critérios de exclusão foram textos repetidos, incompletos, de acesso restrito e que não satisfaziam o formato de artigo. Os dados foram coletados em agosto de 2017.

Ao todo, 20 textos foram achados. Destes, um foi excluído por repetição e outros três por não se enquadrarem na categoria de artigos, levando a uma amostra final de 16 artigos. Os artigos foram lidos na íntegra e um resumo dos problemas e desafios extraídos fora elaborado para cada um deles. Em seguida, foram categorizados em função da(s) política(s) a que o estudo está vinculado, ao tipo de estudo (revisão, estudo teórico, relato de experiência, entre outros), atores envolvidos e objetivos – explícitos ou implícitos. A extração das informações buscadas foi realizada de maneira descritiva – quando o texto explicitava o problema vinculado ao trabalho interprofissional – e negativa – pela falta daquilo que, no cotidiano de trabalho, a colaboração adiciona ou promove. Desta forma, os problemas foram classificados e nivelados no decorrer do processo de leitura e resenha, e não previamente.