Resumo
O objetivo deste trabalho é demonstrar como o cuidado pautado em liberdade, autonomia e direitos humanos pode trazer resultados efetivos e transformadores na vida das pessoas com transtornos mentais e em conflito com a lei. “Por motivo fútil, meio cruel e de recursos que dificultou a defesa da vítima, tentou matar sua própria mãe”; “Atestado comprobatório de comportamento carcerário do CDP atestou má conduta carcerária”; “Laudo médico conclui: Transtorno de personalidade emocionalmente instável, tipo impulsivo, periculosidade considerada como não cessada”; “Porte físico atlético e antecedentes de violência”.
Essas são algumas das descrições contidas nos relatórios de André, um homem que passou 12 anos em manicômios judiciários antes de ser transferido para uma residência terapêutica (SRT), com base na Lei 10.216 de 2001. Apesar de chegar carregando o estigma de periculosidade, a equipe do SRT Brasilândia IV, juntamente com o CAPS Adulto Brasilândia, desenvolveu estratégias para lidar com o medo partindo da construção e execução de um Projeto Terapêutico Singular (PTS) norteado pelos Direitos Humanos e com foco em suas necessidades reais: trabalho e moradia.
A trajetória de André evidenciou que, com tal aposta e investimento, o estigma de “louco perigoso” foi sendo desconstruído, permitindo a reintegração social e a conquista de seu lugar como cidadão. A equipe também pôde experimentar que este modelo de cuidado pode trazer resultados de confiança e respeito mútuo.