Resumo
Minha experiência foi ter o privilégio de poder dar um nome de fato a alguém que não era o meu filho, meu familiar e sim a um cidadão que “apareceu” no CAPS e de lá foi encaminhado para uma residência terapêutica e que, mesmo recebendo um teto, uma cama para dormir e alimentos, ainda não existia para o mundo e não tinha sequer um nome. Tornar aquele rapaz do qual eu desconfiei que ainda era um adolescente, me instigou a pensar que talvez alguém estivesse esperando por ele, que uma mãe pudesse estar desesperada à sua procura e que, se nada disso fosse verdade, ao menos ele se tornaria um cidadão e teria seus direitos minimamente garantidos, pois na minha percepção eu não poderia ignorar a sua existência.
Para torná-lo alguém que tivesse um nome, documentos, eu sabia que não poderia fazer nada sozinha, que precisaria pesquisar sua origem, sites de pessoas desaparecidas, encontradas, mas o que chamou a atenção foram suas características indígenas, sua forma de dançar em roda, seus desenhos que mais pareciam umas ocas, seus cabelos lisos e negros e pouco pelo em sua pele… Nesta busca, conhecer não apenas um pajé e sim dois, uma índia, foi somente o início desta aventura chamada de desconhecido para o reconhecido.