Resumo
No tecer da produção de cuidado, na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), os dispositivos grupais são uma modalidade experiencial de uma potência singular, que emerge da diversidade dos encontros. Ante o viver angustiante, em um tecido social ainda tão marcado pela patologização, estigmatização e segregação do que é posto como diferença, os grupos concretizam a possibilidade de traçar e sustentar contatos com a alteridade. Esses, ao serem mediados em espaços seguros e eticamente implicados, traçam uma dança não coreografada, composta por compassos que, mesmo variados, fazem fluir movimentos, tanto individuais quanto coletivos, de construção de novas possibilidades de subjetivação e de vida.
Nesse ritmo, em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), tipo geral, da cidade de Fortaleza, um Grupo de Arteterapia, realizado semanalmente e composto por nove usuários(as), uma psicóloga do serviço e uma estagiária de psicologia, embalou a elaboração coletiva de um boneco: feito de materiais recicláveis, nomeado “Capsinho” e ilustrado em um fanzine. Este último, retrata a(s) história(s) da chegada desse ser ao CAPS, narrativa a qual é atravessada por intersecções entre diferentes marcadores sociais da diferença. Da montagem coletiva das peças, às frases e desenhos postos no papel, a diversidade dos próprios participantes foi expressa, em construções que valorizam a diferença como potência e narram percalços e sofrimentos, seguidos de encontros que possibilitaram subversões. Ao fim do percurso criativo, o material foi organizado digitalmente, impresso e distribuído em um espaço público da cidade, no Dia Nacional da Luta Antimanicomial, do ano de 2024.