Resumo
A experiência aqui relatada surgiu da necessidade de mobilização social em resposta a uma situação grave de violência institucional perpetrada pela Guarda Civil Municipal no CAPS AD III Gey Espinheira, na cidade de Salvador/BA, no dia 10/10/2024, diante de uma situação de acolhimento à crise de um usuário da RAPS. Usuários/as, trabalhadores/as e gestão local, através da oferta de espaços coletivos de escuta, compreenderam que essa situação era extremamente grave e não poderia ser banalizada, pois representava uma possibilidade real de fragilização na continuidade do cuidado de pessoas com uso prejudicial de SPA e trazia alguns questionamentos: qual o lugar e a quem cabe o manejo da crise em um CAPS AD III? CAPS AD III é lugar de cuidado ou de repressão? A GCM nos CAPS está para proteger quem de quem? Há contradição entre a presença do aparato repressivo do Estado e o cuidado no campo AD? Qual o lugar do racismo nessa discussão, considerando que as pessoas SUS dependentes, usuárias dos CAPS e, em especial, dos CAPS AD, são, em sua maioria, negras?
Tais questões levaram a produção coletiva de uma carta do coletivo de usuários em repúdio à situação de violência e duas assembleias com participação de coletivo de trabalhadores/as, além da discussão ampliada, ainda em andamento, sobre qual o lugar da GCM nos serviços da RAPS e repercussões da violência institucional na oferta de cuidado.