Resumo
“O que o senhor diria para as mães que tiveram filhos adotados por estrangeiros? Eu diria para elas fazerem o mesmo que eu faço: rezem.” Essa foi a resposta do juiz responsável por adoções ilegais e internacionais em Jundiaí, São Paulo, nos anos 90.
O coletivo Mães da Praça do Fórum contestou as decisões judiciais arbitrárias, trazendo à tona uma rede maior do que quem autorizava, mas com pouquíssimos finais felizes. A marca na cidade, embora esquecida mais rapidamente do que o juiz assinava os papeis, deu origem à Comissão Flores de Lótus, um espaço intersetorial de cuidado à mulher gestante em condição de vulnerabilidade. Com a presença de 19 Serviços em encontros quinzenais, a Comissão conta com o CAPS AD III para mediar uma complicada gangorra de disputas de direitos entre a mãe e o bebê.
Como rezar não é uma política pública, foi através da força de trabalhadoras que enfrentaram muitas, mas muitas discussões — de caso e entre si — que o cuidado em rede vem sendo construído, buscando ser não só sensível e justo, mas também organizado e técnico. Para escapar da estratégia capitalista de culpabilizá-las pela própria vulnerabilidade, a Comissão tem se comprometido a criar e executar fluxos de trabalho que fortaleçam as mulheres quanto a seus direitos e deveres, respeitando sua realidade e apontando que ausência de moradia, o uso de substâncias, a violência de gênero, a falta de acesso ao planejamento familiar, burocracias e moralismo em atendimentos têm um mesmo responsável: o Estado.