Resumo
Historicamente excluídos, calados e ensinados a obedecer, pessoas com sofrimento mental apresentam dificuldade para questionar, negociar e apoderar-se de questões relacionadas ao seu tratamento. Muitas foram levadas a acreditar que somente remédios poderiam resolver seus problemas e que deveriam tomá-los a qualquer custo. Outras adquiriram verdadeira aversão a psicotrópicos após prescrições irresponsáveis. Observando esse sofrimento, terapia ocupacional e enfermagem apropriaram-se das estratégias da Gestão Autônoma da Medicação para utilizá-la como recurso terapêutico.
Ela vem de encontro com a da reforma psiquiátrica brasileira pois leva em consideração a singularidade, coloca usuários e profissionais em pé de igualdade na elaboração do plano terapêutico singular, cada um com seu saber, tomando decisões de forma compartilhada. Além disso, melhora a relação da pessoa com a medicação, construindo um senso crítico em relação ao tratamento, apropriando-se da sua história de vida, adoecimento e tratamento. O encontro acontece semanalmente e um guia padronizado é utilizado como ferramenta para direcionar os diálogos e reflexões. Os usuários são estimulados a refletir e compartilhar experiências e pontos de vista.
Os participantes passaram a questionar mais, reivindicar melhor atendimento, mais escuta, encontrar os olhares dos profissionais. Perguntas simples sobre a rotina causaram grandes revelações aos participantes que relataram viver no famoso “piloto automático” ou sob a regência de um outro maestro que não era ele mesmo, e assim viviam como coadjuvantes da própria história. Ao longo dos encontros, percebeu-se o desabrochar dos participantes que passam a ser não só protagonistas da própria história, mas sim autores dela.