Resumo
O Acompanhamento Terapêutico (AT) consiste em, dentre outras coisas, transitar pela cidade com pacientes psicóticos ou com alterações psíquicas graves, oferecendo como recursos tanto a escuta quanto o próprio deslocamento, capazes de abrir novas possibilidades de existência.
No Brasil, o processo da inclusão social da loucura tem sido relevante para romper com as lógicas e práticas manicomiais. Anteriormente segregados e excluídos da vida em sociedade, os sujeitos considerados “loucos” estão sendo desinstitucionalizados e integrados a serviços substitutivos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Nesse contexto, o Serviço Residencial Terapêutico (SRT) emerge como uma alternativa de moradia para pessoas com transtornos mentais graves que passaram por dois anos ou mais de institucionalização e que tiveram seus vínculos familiares rompidos.
Trata-se de um relato de experiência sobre a práxis exercida com os moradores dos SRT de Campo Grande – MS. O AT compõe uma das atividades profissionais desenvolvidas pelos integrantes da Residência Multiprofissional em Saúde Mental da SESAU. Entre os acompanhados, há pessoas em sofrimento psíquico, algumas em conflito com a lei e outras que já fizeram uso prejudicial de substâncias psicoativas. Até se apropriar do direito à cidade, muitas vezes se faz necessário primeiro ocupar novos cômodos da casa.
Os desafios, dentre vários, são as demandas institucionais, as diversas vulnerabilidades, a lógica manicomial que coexiste e os estigmas da loucura. O que nos motiva é contribuir para o processo da Reforma Psiquiátrica, que ainda está em andamento, como uma reforma inacabada de uma casa.