Resumo
Diante da necessidade de oferta de acolhimento e escuta para pessoas que convivem com alucinações auditivas, a partir de um viés não médico-centrado, uma psicóloga e uma enfermeira especialista em saúde mental se basearam em experiências mundiais de grupos de ouvidores de vozes para iniciar uma atividade que, desde janeiro de 2024, acontece semanalmente em Salto de Pirapora. Participam do grupo usuários do CAPS, pessoas com esquizofrenia acompanhadas pela Atenção Básica, entre outros. O grupo tem duração de uma hora e é realizado no próprio CAPS ou em espaços da comunidade, como praças.
No grupo, há uma tentativa de subversão das lógicas comuns de atendimento, em que os profissionais seriam os que têm o saber sobre determinadas formas de existir e sobre o tratamento. Na prática, busca-se fazer com que os sujeitos, que são “especialistas por experiência”, sejam os reais coordenadores da atividade. Tentando sair desta função de coordenar, as profissionais buscam apenas garantir que o grupo aconteça de forma constante e que suas discussões sejam retomadas nos encontros seguintes. Os temas trabalhados são trazidos pelos ouvidores de vozes, que costumam compartilhar os modos de lidar com os incômodos relacionados a essa experiência.
A partir dos elementos trazidos por eles, as profissionais contribuem com o que é discutido, estimulam a exploração de outros cenários de vida e de cuidado em saúde mental, buscando ampliar a rede de afeto e de circulação social de cada um.