Resumo
Este trabalho surgiu a partir das experiências de trabalhadores de saúde mental em um CAPS AD na zona norte de São Paulo que perceberam a importância de uma escuta qualificada com 5 pacientes psicóticos como estratégia de cuidado a partir da atuação multiprofissional (psicólogo, educador físico e técnico de enfermagem) em rede com o território, RAPS e rede intersetorial. Família, trabalho, luto, desilusões amorosas, desemprego, racismo, homofobia, violências diversas, religião, educação e pobreza são marcadores sociais que muitas vezes afetam a vida desses usuários, sendo que no senso comum acredita-se que sua queixa principal seja somente uma questão de uso abusivo de álcool e drogas.
É preciso ter manejo com afeto e linguagem simples como estratégia de cuidado e ouvir suas histórias de vida, para além dos delírios e alucinações. Por isso, o trabalhador de saúde mental precisa também aprender a atuar não apenas com o cuidado em rede, mas com suas frustrações no cuidado e acima de tudo perceber as potências e desejos desses “sujeitos desejantes”. A atuação em rede é possível quando se dá voz a desses sujeitos, suas potências e frustrações para que realmente se sintam sujeitos de sua história.
Atuar em rede muitas vezes é aguardar o momento certo para “abrir a rede”, “lançar em aguas mais profundas” e acima de tudo conhecer a maré, o vento bom e o tempo certo para “pescar”. Dar voz aos sujeitos psicóticos em CAPS AD é acreditar que sempre vem algo bom das profundezas do mar sem fim.