Resumo
A poesia é datada de maio de 2019,enquanto residente de saúde mental na RAPS Recife como palco de afetações. Fui entendendo como as redes de pessoas,como a rede de saúde,bsão construções políticas cotidianas, encontros que vão colocando em evidência o espaço de disputa que é a política de saúde mental brasileira, a partir da lei 10.216. Além do mais, não é apenas uma mudança de política de saúde, é uma operação do mundo, lidar e construir liberdade, democracias, projetos de cuidado que sustentem as histórias de vida das pessoas.
Hoje, novembro de 2024, ocupando outro lugar, o de supervisor clínico institucional do primeiro Centro de Convivência da RAPS Recife, CeCon Recomeço Fátima Caio atualiza o tempo do entre nas provocações com a invenção da clínica e do cuidado. No CeCon acontecem oficinas expressivas, sendo o diferencial, produzir o cuidado a partir do encontro com a arte, artistas, sustentar um lugar para afirmação da potência do que pode a vida. As alianças afetivas,segundo Krenak,nos fazem lembrar que estamos o tempo inteiro em rede.
A construção de uma política de saúde mental requer uma sociedade produtora de liberdade e isso perpassa pela forma como construímos relações sociais entre nós. Logo, a cenopoesia como recurso terapêutico na produção de autonomia ensina que a clínica,assim como a vida,é do movimento;convida a movimentar nossos corpos com as palavras,distribuídos em seus gestos e ações manifestas. Portanto, a arte como aposta e sustentação de uma abertura para construção de uma política de saúde mental antimanicomial, antiproibicionista, antirracista, feminista requer deslocamentos e experimentações inventivas e éticas, na construção de uma política-cidade pautadas na relação da loucura e seu acolhimento na cidade, nas relações, nas instituições, produzindo outros imaginários sociais. Afinal, quem constrói redes, derruba muros!