Resumo
Este é o relato de intervenção em Supervisão Clínico Institucional em CAPS tipo I em cidade mineira de 22 mil habitantes. Era um CAPS que “atendia de tudo”, ambulatorial, centrado no modelo médico, onde não havia projeto terapêutico, oficinas, grupos e atendimento de crise. Os usuários ficavam em casa e, na crise, eram internados. A cultura de internação permeava a rede de cuidados, tanto no CAPS quanto na atenção primária e no CRAS. Trabalhou-se com técnicas esquizodramáticas (Klínica com K), criando encontros que produzem desvios no instituído, potencializando diferenças múltiplas, recriando práticas klínicas. Aqui retomo uma intervenção usando arte como dispositivo: a equipe se olha, se permite, sai do lugar cômodo de avaliar o outro para se perceber, sentir.
Pinta-se uma tela em branco. Há invasões, busca de lugares vazios, isolamentos, parcerias, mistura de pinceladas, bricoullers, disputa pela cor, pelo pincel, pela pintura que era para ser de um jeito e está de outro. Há flores, jardins, borboletas, confusões multicores. Pinta-se uma equipe, pintura coletiva. Tudo se mistura, coletiviza, singulariza. Há caos, nada sai como planejado. Aparecem improvisos, desejos, paranóias. O estranho prazer infantil diante do caos. De repente, surgem pássaros. Alguém diz: “Pinto pássaros no seu caos!” Surgem risos, possibilidades de compartilhar e criar realteridades: novos espaços de liberdade, dispositivos. Caos, pássaros, afetos. A arte intervém, cria linhas de fuga do instituído atualizando novos modos de existir e cuidar. Abriram-se para trocas, aprendizagens, trabalho com equipe e (re)construção de dispositivos na rede de cuidados dentro e fora do CAPS.