Abordagem Dialógica

abril 21, 2020 15:28

Valéria Vernaschi Lima

        O princípio da dialogia valoriza as diferentes explicações/perspectivas em relação às explicações relativas a um problema e busca reconhecer as associações entre os elementos que o compõem, ligando o todo às partes. Esse princípio é representado por uma espiral e pela ideia da recursividade, requerendo a articulação de diferentes pontos de vista, em um metaponto de vista (MORIN, 1996).

        A dialogia deslocou o sentido da contradição entre lógicas, aparentemente antagônicas, para o diálogo entre diferenças. Na abordagem dialógica, não ocorre a submissão de um elemento em relação ao outro ou de uma lógica em relação à outra. O diálogo e a articulação entre diferentes pontos de vista ou elementos/componentes de um sistema expressa a relação recursiva e complementar entre, por exemplo: indivíduocoletivo; saúde-doença; formação-trabalho; ciência-arte; disciplina-interdisciplinaridade; objetividade-subjetividade; análise-síntese; certeza-incerteza; ordem-desordem.

Aplicada no contexto educacional, a abordagem dialógica implica o atendimento às necessidades de aprendizagem de todos os envolvidos promovendo respeito, aceitação, inclusão e comprometimento (MATURANA, 2005). Assim, todas as dúvidas e perspectivas devem ser consideradas legítimas no processo de aprendizagem porque o outro é um sujeito legítimo. A discussão das bases conceituais da abordagem dialógica associada à perspectiva sociointeracionista e à aprendizagem significativa ganham maior significado educacional quando somos capazes de traduzir essas orientações no desenvolvimento curricular e, particularmente, no desenho e implantação de atividades ou programas educacionais.

Os elementos-chave que imprimem essa necessária coerência entre os
pressupostos teóricos, a intencionalidade e a prática pedagógicas são: (i) o papel do contexto na aprendizagem significativa, valorizando o uso de disparadores potentes em cenários autênticos e simulados; (ii) a inclusão e legitimidade dos educandos no processo ensino-aprendizagem; (iii) o deslocamento do docente para o lugar de mediador de saberes; (iv) a articulação dos domínios subjetivo e social que influenciam a construção
de representações sobre o mundo, tornando o processo de aprendizagem singular, relacional e histórico; (v) a promoção da metacognição que, como estratégia de avaliação da aprendizagem, coloca esse processo sob reflexão, identificando facilidades e dificuldades e favorecendo a produção de ajustes orientados à melhoria no acesso e compartilhamento de informações e na análise, organização e mobilização do conhecimento.

De modo geral, as estratégias de aprendizagem visam a criação de padrões de informação, por meio da organização do conhecimento em agrupamentos afins, tornando mais eficiente a recuperação e a combinação de conteúdos. Esses padrões, estudados pelas ciências cognitivas, favorecem a articulação entre saberes prévios e novos, ampliando a chance de aprender. Segundo Bransford et al (2007), especialistas organizam
o conhecimento em torno de princípios chave para a resolução de problemas enquanto principiantes o fazem de modo sequencial, baseado na memorização. O modo como os especialistas operam representa uma estratégia de aprendizagem mais potente e que também pode ser aprendida, uma vez que organiza as informações segundo uma
hierarquia conceitual do mais geral para o mais especifico, favorecendo sua ativação e aplicação, quando necessário.

As metodologias utilizadas no processo ensino-aprendizagem podem promover ou dificultar a construção de um ambiente propício à produção de padrões de aprendizagem, potencializando a interação entre sujeitos e destes com os objetos a serem aprendidos. Para além do desafio de favorecer as interações, as estratégias singulares de aprendizagem podem tornar mais eficiente a recuperação e a combinação de conteúdos considerando um determinado problema a ser enfrentado.


REFERÊNCIAS

BRANSFORD, J.D.; BROWN, A.L.; COCKING, R.R. (org) Como as pessoas aprendem: cérebro, mente, experiência e escolar. Editora Senac: São Paulo; 2007.

MATURANA, H. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: Editora
UFMG; 2005.
MORIN, E. Por uma reforma do pensamento. In: PENA-VEGA A.; ALMEIDA, E.P. O pensar complexo: Edgar Morin e a crise da modernidade. Rio de Janeiro: Garamond, 1999.


Mar Aberto abril 21, 2020 15:28




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