Principais componentes da Educação a Distância e do Design Instrucional

setembro 15, 2020 14:09

Os estudos acerca da EAD têm origem na perspectiva cognitivista da Educação, para a qual interessa observar os processos de aprendizagem, mais que os resultados. Neste sentido, a aprendizagem não é transmissiva. O professor, antes central no ato pedagógico, passa a ter o papel de tutor, mediando as conexões entre o novo conteúdo, as experiências anteriores e os estilos de aprendizagem do aluno. Na outra ponta, o estudante passa a ter um papel central e ativo e o processo de aprendizagem se dá por meio da interação entre a pessoa, a sociedade e o conteúdo. Nestes estudos, as tecnologias educativas podem ser consideradas ferramentas de pensamento e reflexão de novos conceitos. O acesso a uma ampla gama de conteúdo aberto possibilita novas experiências influenciadas por fatores sociais e culturais durante a construção do conhecimento, o que favorece o trabalho colaborativo e a troca de ideias entre os participantes do processo de aprendizagem.

Embora possa ser amplamente definida como os processos de aprendizagem que acontecem entre estudantes e docentes em ambientes não presenciais, a  Educação à Distância (EAD) pode ser aplicada também segundo outros critérios mais específicos que envolvem: a sincronicidade do acesso, o período de disponibilidade da oferta, o número de participantes, a dimensão da oferta, a característica das formações ou ao método de interseção com modelos presenciais. Seja como for, a EAD tem como principal ferramenta a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Esse uso, viabilizado pela internet, tem a finalidade de garantir maior qualidade da aprendizagem, do acesso e da colaboração entre as pessoas.

Quando comparada aos processos tradicionais, os estudos da EAD debruçam-se sob as seguintes características: distância entre professor e aluno, ruptura temporal do processo de educação, mediação tecnológica, flexibilização da estrutura dos conteúdos, autonomia e centralidade do aluno enquanto gestor do próprio processo, mudanças administrativas e organizacionais, linguagem usada no processo de aprendizagem.

Para responder à terceira pergunta que apoia a construção da matriz analítica – Quais são os elementos importantes que constituem uma avaliação de material do ponto de vista da Educação a Distância e do Design Instrucional? – destas características apresentadas, os seguintes elementos se destacam:

  1. Estrutura do conteúdo do curso flexível;
  2. Autonomia do aluno enquanto gestor do seu processo de aprendizagem;
  3. Centralidade do aluno no processo de ensino-aprendizagem;
  4. Facilidade de acesso tecnológico
  5. Flexibilidade de tempo e de espaço de aprendizagem;
  6. Amplitude (geográfica, cultural e social) da disponibilização do curso;
  7. Desenvolvimento de habilidades e capacidades pessoais;
  8. Inclusão de estudantes especiais e não tradicionais.

Normas e diretrizes

Apesar de existirem normas ISO aplicadas à EAD, elas são mais direcionadas aos aspectos técnicos, de gestão, arquitetura de sistema, treinamentos, processos de desenvolvimento, padrões legais, entre outros. Entretanto, numa tentativa de buscar padrões de qualidade para o campo da EAD no Brasil, dois documentos foram pactuados pelo Ministério da Educação com a Secretaria de Educação à Distância. 

O documento Referenciais de Qualidade para Cursos a Distância tem como objetivo ser um referencial básico em termos de avaliação, no entanto, sem a pretensão de esgotar a complexidade e abrangência de um projeto de curso a distância. Os critérios definidos são agrupados em categorias: 1) Concepção de educação e currículo no processo de ensino e aprendizagem; 2) Sistemas de comunicação; 3) Material didático; 4) Avaliação; 5) Equipe multidisciplinar; 6) Infraestrutura de apoio; 7) Gestão Acadêmico-Administrativa; 8) Sustentabilidade financeira. 

Esse documento serviu de base para a formulação de outro documento oficial, o Instrumento de Credenciamento Institucional para Oferta de Educação à Distância, estabelecendo critérios a serem seguidos na avaliação dos cursos a distância, pelos especialistas indicados pelo Ministério. Esses critérios estão agrupados em dimensões: 1) Organização institucional para EAD; 2) Corpo social; 3) Instalações físicas.  

A análise dos critérios de qualidade destes documentos possibilitou o levantamento dos seguintes elementos importantes para a construção da matriz:

Ilustração dos critérios de qualidade segundo documentos do MEC

Referenciais teóricos​

Se comparado aos processos tradicionais de ensino-aprendizagem, a avaliação em EAD é uma tarefa bem mais complexa. O que requer a consideração de elementos macro (avaliação da tecnologia, do curso, da proporção custo/benefício), e elementos micro (avaliação do participante, realização do objetivo etc.) Desta forma, tendo como foco a análise teórica da qualidade da Educação à Distância e por conseguinte da sua avaliação, dez autores se destacaram na revisão bibliográfica com contributos relevantes: Quinn1, Honebein2, Mayadas3, Thurler4,Jonassen5, Passerini e Granger6, Moran7, Santos e Silva 8, Willis9, Araújo e Marquesi10.

Principais contributos teóricos da qualidade da Educação a Distância.

Baseados nos critérios levantados nos documentos do MEC, assim como nos critérios encontrados nas 10 referências teóricas, foi elaborada uma tabela de recorrências, com os fatores que podem ser considerados mais importantes. Entre os elementos com maior recorrência estão: relevância, motivação, colaboração, conteúdo interativo e centralização do aluno.

Tabela de recorrência com o levantamento dos principais elementos de avaliação da EAD.

Referenciais

1. Quinn, C. (1996). Pragmatic Evaluation: Lessons from Usability. 13th Annual Conference of the Australasian Society for Computers in Learning in Tertiary Education, ASCILITE.

2. Honebein, P.C. (1996). Seven goals for the design of Constructivist Learning Environments.in Constructivist Learning Environments: Case Studies in Instructional Design. Brent G. Wilson (Ed.). Englewood Cliffs: Educational Technology Publications: 11-24.

3. Mayadas (1997). Asynchronous learning networks: A Sloan Foundation perspective. Journal of Asynchronous Learning Networks, 1(1), 1-16. 

4. Thurler, M. A eficácia das escolas não se mede: ela se constrói, negocia-se, pratica-se e se vive. In: Conholato, M. e Ferreira M., Sistemas de avaliação educacional, São Paulo: FDE, Diretoria de Projetos Especiais, 1998. 

5. Jonassen, D. H. (1999). Designing Constructivist Learning Environments. In C. M. Reigeluth (Ed.), Instructional design theories and models: A new paradigm of instructional theory (Vol. II, pp. 215-39). Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associates.

6. Passarini, k. e Granger, M. A developmental model for distance learning using the Internet, computers and education, 34:1-15, 2000. 

7. Moran J., 2002. O que é um bom curso a distância?

8. SANTOS, Edméa Oliveira; SILVA, M. Avaliação Online: O modelo de suporte tecnológico do Projeto TelEduc (2006). In: Avaliação em Educação Online, Edições Loyola.

9. Willis, B. Distance education at a glance, uidaho edu, 2007.

10. Araújo J., Marquesi C. 2009, Atividades em ambientes virtuais de aprendizagem: parâmetros de qualidade. In: LITTO, Fredric Michael; FORMIGA, Manuel Marcos Maciel (orgs.). Educação a Distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil.

“Este é um texto de divulgação científica que adota uma estética jornalística. Foi editado e produzido por Juliana Vargas com o objetivo de divulgar uma pesquisa acadêmica realizada por Stéphanie Marie Dominique Bertrand Thomas Cor Coomans de Brachen, no âmbito do Projeto Avaliação e prospecção de tecnologias web para a Educação Permanente em Saúde”.


Mar Aberto setembro 15, 2020 14:09




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