Problemas da formação à distância na saúde: metodologia do estudo integrativo

fevereiro 27, 2020 06:34

As tecnologias no âmbito da educação à distância (EAD) em saúde são, quase sempre, percebidas como recursos para o processo formativo. Enquanto de um lado se observa a tendência de associar o uso às potencialidades inerentes a ele, de outro, as problemáticas implicadas e/ou geradas pela utilização destas tecnologias são pouco ou raramente discutidas na literatura. Esta lacuna precisa ser observada à luz da pluralidade de experiências que se apresentam em todo país. Assim, embora se reconheçam iniciativas nacionais que enfatizam a mediação tecnológica, em prol da política de Educação Permanente em Saúde, funcionando como redes articuladoras de várias ofertas – como é o caso das plataformas da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS) e do Ambiente de Aprendizagem do Sistema Único de Saúde (AVASUS) – há também, em território nacional, outros cenários formativos mediados por tecnologias web a serem explorados. 

Um primeiro passo usado para se reconhecer tais experiências educativas à distância é a compreensão da multidisciplinaridade que elas envolvem. Por essência, a EAD mobiliza ações que envolvem profissionais de diferentes áreas e, por consequência, ações multidisciplinares. Por esse motivo, o referencial analítico que orienta o mapeamento e sistematização dos desafios na EAD na saúde é construído a partir de um levantamento não somente da saúde mas, ainda, em experiências de outros campos. Olhar para os problemas da saúde a partir da lente de outras áreas de conhecimento possibilita a percepção de problemas comuns. 

Assim, a abordagem das dificuldades relacionadas à EAD se coloca como um desafio, haja vista que tais fatores circundam múltiplas esferas e vão desde questões de ordem pessoal até as de caráter técnico-operacionais. Tais problemáticas sugerem um leque bastante amplo e diversificado que ajudam a responder a pergunta norteadora deste primeiro assunto / estudo da Meta 1: Quais os principais problemas e desafios explicitados em processos formativos no campo da saúde, ofertados na modalidade à distância? 

Neste primeiro de uma sequência de três posts, queremos apresentar a metodologia adotada para a realização da revisão integrativa. O estudo foi, portanto, baseado em uma pesquisa bibliográfica, aplicada no “Banco de Experiências Nacionais no Campo da Saúde em EaD”, que se refere ao primeiro ciclo da “Construção do panorama nacional e internacional de instituições e experiências inovadoras de modelagem curricular EAD e certificação na educação profissional” e cuja organização se deu através do uso do software Mendeley, onde todas as publicações encontram-se integralmente catalogadas e disponíveis.

O levantamento dos relatos incluídos na análise foi realizado entre agosto e setembro de 2017, estruturando-se em duas etapas de busca: a primeira, exploratória e geral, objetivou rastrear no banco de dados o máximo de produções relacionadas ao objetivo específico traçadoOs resultados desta etapa foram organizados em uma lista de experiências para cada termo de pesquisa, sendo eles: “Dificuldade”, “Desafio” e “Problema”. Além destes resultados, cujo critério de inclusão buscava realçar aqueles que tivessem pelo menos um dos termos, foi feita uma busca interna nos capítulos de três livros integrais disponibilizados no banco de dados. Nesta etapa, o critério de exclusão consistiu basicamente na retirada das repetições entre a busca geral e a busca nos livros, a fim de extrair uma lista comum de experiências contempladas pelos termos de busca. Este trabalho resultou na identificação de 63 experiências, distribuídas em: quatro anais de congresso, 14 artigos, 43 capítulos de livros, uma dissertação três relatos de experiências, um resumo de tese e uma tese.

Na segunda etapa, entre outubro e novembro de 2017, realizou-se a leitura integral do material listado. Como critério de inclusão foram consideradas experiências que explicitassem dificuldades, problemas e/ou desafios relacionados ao uso da Educação a Distância, ou ao uso de outra tecnologia educacional na realização do processo formativo, seja na etapa de planejamento, desenvolvimento, execução ou avaliação de sua aplicação. O critério de exclusão aplicado foi o de experiências que não apresentassem tais características. Como resultante desta etapa, das 63 experiências previamente selecionadas, constatou-se que 42 efetivamente apresentaram elementos vinculados ao escopo do estudo. Mais especificamente, foram selecionados nove artigos, uma dissertação, um texto publicado em anais de congresso, um resumo de tese e 34 capítulos dos livros de relato de experiência. A animação a seguir ajuda a compreender melhor a metodologia usada para a revisão integrativa:

As experiências selecionadas foram dispostas em uma tabela contendo as seguintes informações: Título da Experiência; Instituição; Abrangência; Público-alvo; Área do conhecimento; Temática da formação; Modalidade; Plataforma utilizada; principais referências utilizadas (com relação ao âmbito das tecnologias educacionais); Trechos sobre Problemáticas/desafios explicitados; Apontamentos (resumo); Esfera (categoria macro); Componente (categoria micro).

Mapeamento dos principais problemas e desafios na modalidade à distância: levantamento multidisciplinar para categorização dos desafios no campo da saúde.

A partir da leitura das experiências selecionadas avançou-se para a sistematização das informações. Além daquelas sobre a saúde, o levantamento contemplou, também, outras 100 experiências de diferentes áreas de conhecimento, de forma a melhor explicitar os problemas e desafios no contexto educacional mediado por tecnologias. Como apresentado antes, foi devido a revisão bibliográfica multidisciplinar que se possibilitou a caracterização dos resultados em três esferas (detalhadas no quadro que ilustra este post): uma relacionada a elementos vinculados à organização do processo de ensino e aprendizagem, intitulada “Esfera Pedagógica”; outra relacionada a elementos vinculados à estruturação e /ou manipulação das tecnologias, intitulada “Esfera Técnica Operacional”; e por fim, a terceira, associando mudanças sociais e culturais consequentes de um novo cenário, conformado a partir da inserção das tecnologias nas relações sociais, intitulada “Esfera Implicações do formato de sociedade mediada por tecnologias”. No post a seguir, como continuação do assunto Desafios da EAD, veja “As categorias relacionadas aos desafios da EAD na saúde”.

“Este é um texto de divulgação científica que adota uma estética jornalística. Foi editado e produzido por Juliana Vargas com o objetivo de divulgar uma pesquisa acadêmica realizada por Karina Fernandes dos Santos, orientada por Francini Lube Guizardi, no âmbito do Projeto Avaliação e prospecção de tecnologias web para a Educação Permanente em Saúde”.


Mar Aberto fevereiro 27, 2020 06:34




Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *