Resumo
A experiência de ouvir vozes pode ser muito solitária e dolorosa pois é socialmente estigmatizante e indesejada. As vozes possuem uma mensagem que está relacionada com a história de cada indivíduo e ao “calá-las” com medicamentos, ignoramos a mensagem que pode apontar a raiz do problema. Nos Grupos de Ouvidores de Vozes, essa experiência é reconhecida e aceita como real. É um espaço seguro para o compartilhamento da experiência sem julgamentos. O objetivo dos encontros é complementar o tratamento medicamentoso, que muitas vezes não se mostra eficaz.
Outros objetivos são ofertar suporte emocional, melhorar a relação com as vozes, entender que é uma experiência de vida, retomar o controle nessa relação, realizar levantamento de situações práticas para lidar com as vozes diariamente. O grupo acontece semanalmente, sendo as moderadoras, uma psicóloga e uma terapeuta ocupacional, favorecendo o cuidado ampliado, observando-se questões práticas da rotina e saúde emocional dos participantes. Eles compartilham suas experiências trocando informações sobre como melhorar a relação com as vozes e quais atividades podem auxiliar nesse processo. Trazem questionamentos e atribuem à experiência algum significado que lhes faça sentido.
Participantes regulares referem ter aprendido a negociar com as vozes. Relataram diminuição da frequência, do medo delas e do isolamento social. Aumentaram atividades realizadas durante o dia e as vozes passaram a ocupar um lugar menor em suas vidas. Ao conviver e compartilhar com outras pessoas que também ouvem vozes, descobrem que não estão sozinhos nessa jornada. São encorajados a enfrentá-las e retomar o controle de suas vidas.